sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio 2016

Este é o Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016

Das alturas do Corcovado debaixo dos braços de Cristo à tranquilidade paradisíaca do Jardim Botânico. Dos cabos de aço do Bondinho no topo do Pão de Açúcar ao repentino desejo de meditar no interior sombrio do Mosteiro de São Bento, sob a inspiração do canto gregoriano na igreja de estilo barroco - uma viagem imaginária à Idade Média, em pleno centro da cidade.Das manhãs ensolaradas em Ipanema ao puro oxigênio da Floresta da Tijuca e tardes de futebol no estádio do Maracanã ou um giro no bonde em malha férrea preservada nas ruas estreitas de Santa Teresa.

De animados encontros na tradicional Confeitaria Colombo a caminhadas pelo centro velho e passeio pela região da Cinelândia, um pedacinho da França bem no meio da “Cidade Maravilhosa”. Noites intermináveis de doce boemia - dos quiosques da Lagoa Rodrigo de Freitas ao antiquário do Rio Scenarium - MPB e bossa nova, lenitivo aos ouvidos de cariocas ou de turistas de todos os credos e continentes. Para recarregar as energias, repouso em hotéis a poucas quadras da orla, à espera de mais um dia do sol que vai nascer atrás das águas do Atlântico e encher de luz o Drummond de bronze, solitário no banquinho, de costas para as areias de Copacabana.

A privilegiada topografia da cidade do Rio de Janeiro, exuberante em belezas naturais, rica em monumentos históricos e plenamente sintonizada com o mundo, ajuda a entender a paixão eterna do carioca por sua terra. Explica o motivo pelo qual mesmo o carioca da gema fica enfeitiçado, todos os dias, quando o sol se vai atrás dos montes. “Aqui o povo pára e aplaude o pôr-do-sol”, disse-me, numa das visitas que fiz ao Rio, o apaixonado o guia turístico Bernardo Leão, cearense de nascimento e, há mais de duas décadas, carioca por adoção.

Emoção aos pés do Cristo

De carro ou de trem da Estrada de Ferro, os caminhos que cortam a floresta íngreme proporcionam uma vista privilegiada da cidade, rumo ao topo do Corcovado. Uma viagem inesquecível, que vai levar o turista bem aos pés do Cristo Redentor, de onde é possível contemplar as maravilhas e descobrir que o Rio de Janeiro é uma porção de pequenas e notáveis cidades cercadas de morros e água por todos os lados, tudo caprichosamente esculpido pela natureza.A viagem de trem nos quase 4 quilômetros de extensão da malha sai por R$ 30. Sentado no banquinho de madeira de um dos vagões, o passageiro tem a ligeira impressão de que está a caminho do cume da lendária Torre de Babel de tantas línguas. “Wonderful!”, exclamam os ingleses logo atrás. “Merveilleux!”, ratificam os franceses sentados no banco da frente. Ao lado, os alemães não deixam por menos: “Wundervoll!” Estão todos ali, no mesmo espaço. Ao deixar o vagão e seguir mais uma etapa pelo elevador panorâmico, os italianos concordam que aquele cenário é realmente “meraviglioso”.Depois de uma pausa no restaurante, chega-se às escadarias, na última etapa da viagem de ida, escolhe-se entre as escadas rolantes, à esquerda, e as convencionais, à direita. A brisa suave no rosto a 710 metros de altura, e contempla-se o deslumbrante Jóquei Clube, à direita da Lagoa Rodrigo de Freitas. É simplesmente “maravilloso”, como diriam os espanhóis também ali presentes.

Um olhar para um horizonte não muito distante - exatamente na direção do olhar de Cristo - e é possível observar o sobe e desce do bondinho no Pão de Açúcar. Um convite irresistível, que fica para o dia seguinte. É hora de pegar o trem e iniciar o caminho de volta, em direção ao sopé do Corcovado, onde pode-se adquirir lembranças, de todos os gostos e bolsos, dessa inesquecível visita ao Cristo Redentor e, 30 metros adiante, ainda conhecer o Mia, maior museu de arte primitivista do mundo.

Rumo ao topo do Pão de Açúcar

Único do mundo com as quatro laterais construídas em acrílico “plexi glass”, de tecnologia de aviação, totalmente transparentes, o bondinho do Pão de Açúcar, com capacidade para 75 pessoas, desliza silencioso enquanto os passageiros contemplam a exuberância da Cidade Maravilhosa. Cada viagem sai de 30 em 30 minutos, com ingresso a R$ 30, e dura aproximadamente três minutos em cada trecho: da Praia Vermelha ao Morro da Urca e, de lá, ao topo do Pão de Açúcar. São dois sistemas teleféricos independentes, com dois bondinhos em cada linha, o que permite maior fluxo de passageiros. Além dos trilhos de cabo de aço, os carros são impulsionados por outro cabo responsável pela tração. Movidos a energia elétrica - e com gerador para acionar em caso de emergência - os carros têm suas estações motrizes instaladas no Morro da Urca. Antes de receber os primeiros passageiros, toda manhã, os bondinhos fazem uma viagem de vistoria. As linhas são dotadas de dispositivo de segurança com alarmes e os carros não se movimentam se não estiver tudo em ordem, inclusive portas fechadas. Todo o trajeto é controlado eletronicamente, para garantir que a aceleração não sofra mudanças bruscas. Funcionam mesmo com chuva e só interrompem as atividades se o vento estiver acima de 65 km/h. Monitorados, são visíveis em painéis nas torres de controle em caso de forte neblina.Um dos maiores charmes do Rio de Janeiro, o bondinho foi idealizado pelo engenheiro Augusto Ferreira Ramos. Construído em 1912, projetou a cidade internacionalmente e passou por uma grande reformulação que o modernizou a partir dos anos 70. Visitar o Pão de Açúcar é viajar na história e refletir sobre as origens do Brasil. Foi aos seus pés que, em 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Ninguém vai ao Pão de Açúcar sem passar pelo Morro da Urca. Mesmo que não fosse por força do trajeto dos bondinhos - que fazem escala por ali - curtir primeiro estágio da subida é uma oportunidade única para o turista marcar de forma inesquecível sua passagem pelo Rio de Janeiro com um happy hour ao pôr-do-sol, um jantar ao luar ou um café da manhã ao ar livre. O Morro da Urca conta com infra-estrutura completa e sedia regularmente grandes eventos. O restaurante tem vista panorâmica para a cidade. Plataformas circulares ao ar livre são um convite ao happy hour para o turista que optou por curtir os bondinhos no final da tarde. Um espetáculo à parte é o anoitecer visto lá de cima, o magnetismo das luzes da cidade refletidas à beira-mar.

Este é o Rio de Janeiro, uma generosidade da natureza e, agora, sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Copiemos o Lula, que copiou Obama: sim, nós podemos!