quinta-feira, julho 08, 2010

SUA EXCELÊNCIA, O COMENTARISTA

(Minha coluna de 8/7/2010 no jornal BOM DIA)

Os colegas de redação costumavam brincar com o amigo Mário Luiz sobre seus comentários no programa “Matinal Esportiva” e nas transmissões de jogos da antiga rádio Independência nos anos 80. “A mim me parece que se o América não perder este jogo contra a Ferroviária, é bem capaz de empatar, mas pode também vencer”, repetíamos aos ouvidos dele, na infrutífera tentativa de irritá-lo, atribuindo-lhe uma frase que, a bem da verdade, ele jamais disse.

A verdade é que “o comentarista que sabe o diz” dispensava e dispensa comentários. Me perdoem os outros colegas ‘Maradonas’, mas o Mário virou mito regional e se transformou numa espécie de ‘Pelé’ por essas bandas do noroeste paulista. O inigualável Mário me vem à memória no momento em que se observa nesta Copa do Mundo, mas não só agora, a grande legião de comentaristas espalhados por aí, especialistas de tudo – tem até o Diogo Mainardi: contratado temporariamente para falar de futebol na Copa, passou a atender pela sugestiva alcunha de “vuvuzela humana”.

Já ouvi dizer, e não ouso discordar, que comentaristas esportivos lembram muito os comentaristas de economia. Eles sempre acertam, porque nunca erram – as coisas é que mudam como as nuvens. Se dizem que o time vai vencer e não vence, é porque os jogadores ou o técnico, de repente, não se comportaram de acordo com os mais infalíveis prognósticos. Ah, se o Dunga ganha o hexa na Copa da África! Estaria consagrado e eleito para buscar o título em 2014, em terras brasileiras, ainda que os comentaristas dissessem que o Brasil venceu, apesar do Dunga.

Mas como Dunga é passado, o negócio agora é comentar o que vem por aí. Aliás, comentar não em cima de fatos, mas de hipóteses. Assim como temos milhões de técnicos de futebol, temos milhões de comentaristas esportivos. O que nos leva à modalidade do comentarista de arquibancada, o torcedor apaixonado. Agora mesmo muitos deles levantam as mais estranhas teorias para explicar a eliminação do Brasil. A mais comum é a desconfiança de que tudo estava devidamente combinado, todos os resultados, incluindo as zebras, foram rigorosamente traçados nos bastidores.

Neste contexto, estaria arranjada até mesmo aquela convulsão que Ronaldo Fenômeno teve momentos antes da final de 1998, contra a França. Pergunta-se: como montar tamanha farsa em meio a tanta gente envolvida? Edmundo, o “Animal”, por exemplo, já teria se encarregado de contar tudo para o mundo todo. Seria risco demais até para os mais habilidosos mafiosos. Diante de tão sofisticada tecnologia nos campos de futebol, nem comprar juiz se compra mais como antigamente.

Tecnologia que, a propósito, tornou cômoda a situação dos comentaristas, incluindo os especialistas em arbitragem. Se eles já não erravam antes, agora com a ajuda das câmeras é que não erram nunca mais. O Arnaldo Cezar Coelho, por exemplo, não precisa mais chutar nada antes de ver o replay e, aí sim, esfrangalhar o pobre árbitro que, lá no gramado, continua tendo a inglória missão de decidir na fração do segundo e submeter sua decisão à avaliação dos milhões de comentaristas infalíveis.

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