Oito a zero, quatro gols do Rei
Pelo segundo ano consecutivo o
América disputava a elite do campeonato e até então não havia dado moleza para
o grande Santos. Mas ninguém resiste tanto e por tanto tempo quando do outro
lado estão os mágicos da bola e no meio deles um rei. Foi o que os jogadores do
América descobriram ao voltar à Vila Belmiro em 14 de outubro de 1959, o
terceiro jogo do América no segundo turno do campeonato.
– Fecha la janela, morôtio, fecha
la janela, morôtio.
Morôtio era como o goleiro
argentino Vilera chamava os seus companheiros. Ele queria dizer “fecha as
pernas, negrão”.
Os gênios da Vila estavam ali
decididos a operar o milagre da multiplicação do futebol e esperaram só sete
minutos para abrir as janelas, com Pepe, cobrando pênalti de Ambrózio sobre
Dorval. Aos 21, outro pênalti, de Fogosa, em cima de Pepe, que cobrou e marcou
de novo.
Pelé marcou aos 38 do primeiro
tempo, aos 4, aos 31 e aos 33, no segundo tempo. Pagão deu os dois últimos
golpes de misericórdia, aos 37 e aos 41. O América ficou de sacola cheia, como
nunca havia ocorrido antes. Foram 8 gols a 0, quatro dos gols marcados pelo
Rei.
Num dos lances, Pelé estava frente
a frente com Fogosa, no mano a mano, Vilera gritando ‘fecha la janela’
desesperado dentro da pequena área e Bertolino debaixo dos paus, protegendo uma
das traves. O Rei deu uma ginga de corpo, fez que chutou e não chutou para
chutar em seguida. A bola passou não só no meio das canetas de Fogosa como
passou pelo meio das pernas de Bertolino e foi parar no fundo das redes.
Ambrózio esbravejava, inconformado
e inapelavelmente batido:
– Não é possível. Eles estão com
vinte em campo contra onze do nosso time. Pode contar.
Ele tinha razão: um ataque com
Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe, decididamente, valia e fazia por mais de
vinte. Sem contar os outros, Manga no gol, Pavão, Mourão, Getúlio, Formiga e
Zito, coadjuvantes de primeira naquela orquestra.
Escalados pelo técnico Pedrinho,
os bravos Vilera, Carlos e Fogosa; Bertolino, Julinho e Ambrózio; Silvano,
Guimarães, Santos, Osmar e Urias, pelo menos, carregariam o consolo de entrar
para a história. Foi um alívio quando Dino Passini apitou o final do jogo, que
teve arrecadação de 322 mil e 100 cruzeiros.
Dias depois, em 2 de novembro de
1959, os jogadores do América ficavam sabendo que o prefeito Alberto Andaló
havia morrido em São Paulo. Valdomiro Lopes da Silva assume a Prefeitura e
“batiza” a avenida Duque de Caxias como “Avenida Alberto Andaló”, construída
sobre o Córrego Canela.
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