O Rei em Rio Preto pela primeira vez
Um projeto do Executivo, aprovado
por 16 votos a 2 pela Câmara de Vereadores, libera 1 milhão de cruzeiros para a
ampliação das arquibancadas do estádio “Mário Alves Mendonça”. Sob coordenação
dos dirigentes e esportistas Euplhy Jalles, Francisco Curti, Leonardo Gomes,
Jaime Benedito da Silva e Alberto Cecconi, as obras avançam e abrem o caminho
para o olimpo.
Em 1958, apenas doze anos depois
da fundação, o América já estava na elite do futebol, tinha o estádio
reformulado e, logo no começo, ganhava o “torneio início”, avant-première
festivo da competição, com jogos de curta duração, todos no Pacaembu, em um só
dia. Era o ano em que o Brasil vivia a febre de ter sido campeão do mundo pela
primeira vez, em gramados da Suécia.
Edson Arantes do Nascimento, Pelé,
tinha pouco mais de 17 anos, em início de reinado, quando Ambrózio, agora já
com 20, o conheceu, por ocasião dos primeiros jogos entre América e Santos.
Adversários de respeito mútuo, tornaram-se amigos casuais, de encontros pelos
gramados, desde o primeiro duelo, em 3 de agosto de 1958.
Antes da partida, Pelé foi
entrevistado por Rubens Muniz, nos estúdios da PRB-8 Rádio Rio Preto. O Rei
encontrou-se no local com o prefeito Alberto Andaló, que preparava-se para
iniciar, em seguida, o seu programa radiofônico dominical.
Os torcedores lotaram o estádio
“Mário Alves Mendonça” e deixaram 644 mil e 590 cruzeiros nas bilheterias. A
torcida viu o América mandar três balaços na trave do goleiro Laércio. Ninguém
reclamou do juiz. Telemaco Pompeu teve uma atuação considerada pelos cronistas
como regular.
A apaixonada imprensa doméstica
preferiu poupar o juiz, porque a arbitragem tinha sido de bom tamanho para o
time da casa. Uma penalidade máxima de Fogosa sobre Pelé tinha sido solenemente
ignorada. Mesmo assim, a crônica fez questão de registrar para a posteridade
que o juiz deixou de marcar um “pé alto” quase na cabeça do americano Colada,
na área santista.
A defesa havia sido o ponto forte
do América, sob a liderança de Vilera e participação ativa de Bertolino. O jogo
ainda teve Leal como bom valor da vanguarda. Daquela vez, o bom Urias estava
sem condições físicas que permitissem ser o elemento decisivo de outras
jornadas, mas no geral todo o time fez boa partida, alinhando Vilera; Bertolino
e Fogosa; Adésio, Julinho e Ambrózio; Cuca, Leal, Dozinho, Colada e Urias. O
Santos trazia como atração Pepe, Zito e Pelé, três campeões do mundo. Jogou com
Laércio; Getúlio e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Álvaro, Pagão, Pelé e
Pepe.
O Santos estava longe do
brilhantismo costumeiro, falhando principalmente no trabalho de ligação com o
ataque. Na meia cancha, Álvaro produziu pouco e Zito teve seus passos bem
vigiados. Quem mais se destacou foi
Getúlio, segurando as avançadas do ataque do América.
Pelé foi a principal figura, mesmo
não correndo atrás da bola para disputá-la com os adversários. Mas mostrou sua
alta classe com um jogo malicioso, leve, insinuante. Sabia trabalhar com a bola
parada ou na corrida e sabia colocar-se em condições de servir e ser servido.
Tivesse maior cooperação de Álvaro e Pagão, poderia ter decidido o jogo.
A rodada tinha sido difícil para
todos os times grandes. Enquanto o Santos tropeçava no 0 a 0 diante do América,
o São Paulo ficava no empate de 1 a 1 com o Nacional. Em Piracicaba, o XV não
deixava por menos e arrancava empate de 1 a 1 diante do Corinthians. Esse mesmo
placar foi o máximo que o Palmeiras conseguiu jogando contra o Noroeste, em
Bauru. Para completar, a Portuguesa de Desportos ficou no 1 a 1 com a Ferroviária,
em Araraquara.
A classificação não contava pontos
ganhos, mas pontos que os times deixavam de ganhar. Ou pontos perdidos, como se
costumava dizer. Se a vitória valia dois pontos, no empate deixava-se de ganhar
um ponto e na derrota eram dois os pontos perdidos. Os líderes do campeonato,
depois daquela rodada em que os times do Interior resolveram dar trabalho, eram
Santos, Corinthians e São Paulo, cada um com três pontos perdidos. Depois,
aparecia o Palmeiras, com seis. O América era o sexto colocado entre os 19
times, com 11 pontos perdidos, junto com a Ponte Preta e o XV de Piracicaba.
Nem sempre foi tão equilibrado
assim. Na sequência daquele campeonato, o Santos andou submetendo seus
concorrentes a verdadeiros vexames. Fez 6 a 0 no XV de Piracicaba, 4 a 0 na
Ponte Preta, 4 a 0 na Prudentina, mais 4 a 0 no Botafogo, 7 a 3 no Jabaquara, 8
a 1 no Guarani, 8 a 1 no Ypiranga, 9 a 1 no Comercial de Ribeirão Preto e 10 a
0 no Nacional, da Capital. Sobrou até para o Corinthians, que levou de 6 a 1, e
o Palmeiras, que sofreu 7 gols mas fez 6.
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