quinta-feira, dezembro 18, 2014

O América na Era Pelé (Parte 4)

O Rei em Rio Preto pela primeira vez

Um projeto do Executivo, aprovado por 16 votos a 2 pela Câmara de Vereadores, libera 1 milhão de cruzeiros para a ampliação das arquibancadas do estádio “Mário Alves Mendonça”. Sob coordenação dos dirigentes e esportistas Euplhy Jalles, Francisco Curti, Leonardo Gomes, Jaime Benedito da Silva e Alberto Cecconi, as obras avançam e abrem o caminho para o olimpo.
Em 1958, apenas doze anos depois da fundação, o América já estava na elite do futebol, tinha o estádio reformulado e, logo no começo, ganhava o “torneio início”, avant-première festivo da competição, com jogos de curta duração, todos no Pacaembu, em um só dia. Era o ano em que o Brasil vivia a febre de ter sido campeão do mundo pela primeira vez, em gramados da Suécia.
Edson Arantes do Nascimento, Pelé, tinha pouco mais de 17 anos, em início de reinado, quando Ambrózio, agora já com 20, o conheceu, por ocasião dos primeiros jogos entre América e Santos. Adversários de respeito mútuo, tornaram-se amigos casuais, de encontros pelos gramados, desde o primeiro duelo, em 3 de agosto de 1958.
Antes da partida, Pelé foi entrevistado por Rubens Muniz, nos estúdios da PRB-8 Rádio Rio Preto. O Rei encontrou-se no local com o prefeito Alberto Andaló, que preparava-se para iniciar, em seguida, o seu programa radiofônico dominical.
Os torcedores lotaram o estádio “Mário Alves Mendonça” e deixaram 644 mil e 590 cruzeiros nas bilheterias. A torcida viu o América mandar três balaços na trave do goleiro Laércio. Ninguém reclamou do juiz. Telemaco Pompeu teve uma atuação considerada pelos cronistas como regular.
A apaixonada imprensa doméstica preferiu poupar o juiz, porque a arbitragem tinha sido de bom tamanho para o time da casa. Uma penalidade máxima de Fogosa sobre Pelé tinha sido solenemente ignorada. Mesmo assim, a crônica fez questão de registrar para a posteridade que o juiz deixou de marcar um “pé alto” quase na cabeça do americano Colada, na área santista.
A defesa havia sido o ponto forte do América, sob a liderança de Vilera e participação ativa de Bertolino. O jogo ainda teve Leal como bom valor da vanguarda. Daquela vez, o bom Urias estava sem condições físicas que permitissem ser o elemento decisivo de outras jornadas, mas no geral todo o time fez boa partida, alinhando Vilera; Bertolino e Fogosa; Adésio, Julinho e Ambrózio; Cuca, Leal, Dozinho, Colada e Urias. O Santos trazia como atração Pepe, Zito e Pelé, três campeões do mundo. Jogou com Laércio; Getúlio e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Álvaro, Pagão, Pelé e Pepe.
O Santos estava longe do brilhantismo costumeiro, falhando principalmente no trabalho de ligação com o ataque. Na meia cancha, Álvaro produziu pouco e Zito teve seus passos bem vigiados.  Quem mais se destacou foi Getúlio, segurando as avançadas do ataque do América.
Pelé foi a principal figura, mesmo não correndo atrás da bola para disputá-la com os adversários. Mas mostrou sua alta classe com um jogo malicioso, leve, insinuante. Sabia trabalhar com a bola parada ou na corrida e sabia colocar-se em condições de servir e ser servido. Tivesse maior cooperação de Álvaro e Pagão, poderia ter decidido o jogo.
A rodada tinha sido difícil para todos os times grandes. Enquanto o Santos tropeçava no 0 a 0 diante do América, o São Paulo ficava no empate de 1 a 1 com o Nacional. Em Piracicaba, o XV não deixava por menos e arrancava empate de 1 a 1 diante do Corinthians. Esse mesmo placar foi o máximo que o Palmeiras conseguiu jogando contra o Noroeste, em Bauru. Para completar, a Portuguesa de Desportos ficou no 1 a 1 com a Ferroviária, em Araraquara.
A classificação não contava pontos ganhos, mas pontos que os times deixavam de ganhar. Ou pontos perdidos, como se costumava dizer. Se a vitória valia dois pontos, no empate deixava-se de ganhar um ponto e na derrota eram dois os pontos perdidos. Os líderes do campeonato, depois daquela rodada em que os times do Interior resolveram dar trabalho, eram Santos, Corinthians e São Paulo, cada um com três pontos perdidos. Depois, aparecia o Palmeiras, com seis. O América era o sexto colocado entre os 19 times, com 11 pontos perdidos, junto com a Ponte Preta e o XV de Piracicaba.

Nem sempre foi tão equilibrado assim. Na sequência daquele campeonato, o Santos andou submetendo seus concorrentes a verdadeiros vexames. Fez 6 a 0 no XV de Piracicaba, 4 a 0 na Ponte Preta, 4 a 0 na Prudentina, mais 4 a 0 no Botafogo, 7 a 3 no Jabaquara, 8 a 1 no Guarani, 8 a 1 no Ypiranga, 9 a 1 no Comercial de Ribeirão Preto e 10 a 0 no Nacional, da Capital. Sobrou até para o Corinthians, que levou de 6 a 1, e o Palmeiras, que sofreu 7 gols mas fez 6.

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